Mudanças climáticas na América Latina

5 de dezembro de 2009

Climate change map

Introdução: Como membro do G-20 e parte dos BRIC, o Brasil é o país da região com papel mais importante nas negociações –. O México também tem um papel importante. A maioria dos países latino-americanos pertence ao grupo de negociação G-77 + China (que é na verdade uma coalizão de 132 países em desenvolvimento). O G-77 pede de 25 a 40% de cortes obrigatórios até 2020 nas emissões de países industrializados, em relação aos níveis de 1990. Além disso, os países do grupo defendem uma grande transferência de fundos (1,5 a 2% do PIB dos países ocidentais) para adaptação. Entretanto, há muitas diferenças nas posições dos governos da região. Uma das principais divergências é a existente entre os países de governos de esquerda que pertencem à Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), que inclui a Venezuela e seus aliados (apesar de eles não negociarem formalmente como integrantes do grupo). Esses países dizem não estar preparados para considerar cortes nas suas próprias emissões. Por outro lado, Brasil, México, Costa Rica e Peru disseram estar prontos para fazer seus próprios cortes. Colômbia e Panamá se dizem preparados para considerar o assunto.

Argentina: Membro do G-77, o país é crítico em relação à relutância dos países industrializados em aceitar cortes profundos nas emissões. A Argentina não é tão veemente na defesa de assuntos relativos à mudança climática quanto os outros países da América Latina que integram o G-20 (Brasil e México), apesar de ser amplamente vista como defensor de transferência de tecnologia a países em desenvolvimento. O governo não anunciou que medidas a Argentina adotará internamente para se adaptar, ou mitigar, aos efeitos do aquecimento global.

Vulnerabilidade: Modelos climáticos sugerem que o índice pluviométrico tende a aumentar em algumas regiões do país, e diminuir em outras. Um aumento pode causar enchentes no nordeste e no centro do país, incluindo Buenos Aires, assim como ao longo do Rio Paraná. Áreas costeiras ao redor do estuário do Rio da Prata seriam afetadas pelo aumento do nível da água. Geleiras estão reduzindo seu volume num ritmo acelerado. De acordo com um estudo de 2006, a produção hidrelétrica da área de Comahue, ao sul, responsável por cerca de um quarto da energia hidrelétrica do país, sofreria uma redução de cerca de um terço até 2020, devido à redução do nível dos rios.


Bolívia: O país é membro da Alba – que põe forte ênfase na responsabilidade histórica dos países industrializados pelo aquecimento global. A Bolívia rejeita qualquer corte nas emissões de países em desenvolvimento, se opõe a soluções do setor privado para o desmatamento e defende grandes quantias em contribuição de governos ocidentais para programas de adaptação. O país apoia a criação de um Tribunal Internacional do Clima, para fazer com que “países industrializados paguem sua dívida climática”. O presidente Evo Morales é um forte defensor da experiência dos povos indígenas de viver em harmonia com a natureza. A Bolívia tem um forte grupo de lobby civil na área de clima, conhecido como Plataforma.

Vulnerabilidade: A Bolívia abriga cerca de 20% das geleiras tropicais do mundo. Cidades como La Paz e El Alto são particularmente vulneráveis à aceleração da redução das geleiras, uma vez que grande parte da água potável do país vem das geleiras dos Andes. Cerca de 40% da energia do país vêm de hidrelétricas. Milhares de agricultores pobres dependem do degelo como parte de seu suprimento de água para irrigação; mudanças climáticas drásticas poderiam causar secas e enchentes em diferentes partes do país.


Brasil: Integrante muito influente do G-77, o Brasil vem adotando historicamente uma posição, ao lado da China e da Índia, de afirmar que os países desenvolvidos deveriam fazer grandes cortes em suas emissões em primeiro lugar. No entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o Brasil estaria disposto a cortar suas próprias emissões de 36,1% e 38,9% em relação aos índices previstos para 2020. Ele afirma que uma grande parte desses cortes viria da redução do desmatamento em 80% até 2020, e de preferir carvão vegetal em detrimento do carvão mineral. O Brasil também continuaria a depender muito de biocombustíveis como etanol. O Brasil tem um papel importante nas negociações sobre o acordo de Redução de Emissões, Desmatamento e Degradação (REDD, na sigla em inglês), e defende o uso de dinheiro público em vez do privado em mercados de carbono. A Noruega prometeu doar US$ 1 bilhão ao longo de sete anos, sob a condição de que o desmatamento seja reduzido a cada ano.

Vulnerabilidade: O modelo criado pelo Hadley Centre, o centro de pesquisas climáticas do instituto de meteorologia britânico, prevê que um aumento de 2ºC na temperatura global resultaria em uma perda de 20 a 40% da floresta amazônica ao longo do próximo século, enquanto um aumento de 4ºC destruiria 85%. A maior parte do leste da Amazônia poderia ser substituída por savana. Uma degradação severa da Amazônia poderia provocar um menor índice pluviométrico, levando a mais secas e a menos regeneração florestal. Em uma escala global, os trópicos são a principal base do sistema climático global, e a destruição de grandes partes da Amazônia poderia mudar substancialmente esses sistemas.


Países caribenhos: Eles negociam como integrantes da Aliança de Pequenos Países Insulares (Aosis, na sigla em inglês), que tem 42 membros. A Aosis exige profundos cortes nas emissões de países industrializados para tentar garantir que as temperaturas globais não excedam 1,5ºC. Eles querem que as emissões globais atinjam seu pico em 2015 e caiam 85% até 2050 em relação aos níveis de 1990; os países querem ainda que ao menos 1% do PIB dos países ricos seja gasto na reparação de “danos infligidos ao clima”. A Guiana ofereceu proteger sua floresta em troca de dinheiro internacional. Em novembro, o governo anunciou um acordo pelo qual a Noruega dará US$ 250 milhões até 2015 para ajudar a evitar desmatamento.

Vulnerabilidade: De acordo com o Banco Mundial, Bahamas, Suriname, Guiana, Belize e Jamaica são os países mais vulneráveis a um aumento de um metro no nível dos mares. Na Guiana, por exemplo, cerca de 90% da população vivem na costa, que está 1,4 metros abaixo do nível do mar. Para muitos países caribenhos, a combinação da elevação no nível do mar, aumento da intensidade de furacões devido ao aquecimento da temperatura marinha, e até de pequenos aumentos no nível dos oceanos, causaria problemas imediatos. A destruição de corais é uma das muitas ameaças à indústria de turismo da região.


América Central: El Salvador, Honduras e Nicarágua tendem a se alinhar com a posição da Alba nas negociações. O Panamá apoia a possibilidade de reduzir suas emissões, assim como é a favor de soluções de livre mercado em relação ao desmatamento. A Guatemala tende a seguir as posições da Alba.

Vulnerabilidade: De acordo com o Banco Mundial, as perdas econômicas decorrentes de danos causados pelo aumento da intensidade ou da frequência de furacões na região pode triplicar ou quadruplicar nos próximos 15 anos. Os corais e manguezais da área também correm grande risco devido ao aquecimento dos oceanos. Partes baixas de El Salvador e áreas da costa do Pacífico na Costa Rica são vulneráveis ao aumento do nível do mar, enquanto Guatemala e Honduras correm risco particularmente maior de sofrer com catástrofes climáticas. O modelo do Hadley Centre prevê quedas significativas no índice pluviométrico da América Central ao longo das próximas décadas.


Chile: Em dezembro de 2008 o Chile lançou um plano nacional de adaptação que inclui um compromisso de reduzir suas emissões de carbono. No entanto, ao contrário do México, o país não estabeleceu metas ou datas. O Chile pode ser pressionado a estabelecer alvos de redução devido à sua intenção de tornar-se membro da Ocde. Mas isso seria difícil, em parte devido ao aumento de seu investimento em novas usinas elétricas a base de carvão, e a pesadas emissões vindas do setor de transporte. Alguns dos exportadores chilenos também estão preocupados com o fato de seus produtos (particularmente frutas e vinho) enfrentarem barreiras de pegadas de carbono.

Vulnerabilidade: Devido a sua geografia peculiar, o Chile tem mais opções de adaptar-se a mudanças climáticas do que outros países latino-americanos. Entretanto, a agricultura (particularmente a produção de vinhos), produtos florestais e energia hidrelétrica são vulneráveis a altas temperaturas e às interrupções no fornecimento de água. Mais de metade do fornecimento de energia para a parte central do Chile vem de energia hidrelétrica, gerada pela água de três bacias hidrográficas, que deverão sofrer redução na precipitação de chuvas.


Colômbia: Membro do G-77 + China. Em março de 2009 se aliou ao grupo de países insulares menores que exigem redução de 45% das emissões dos países ricos até 2020, indo portanto além dos 25-40% que é normalmente o nível de redução pedido pelo G-77. Acredita que o desmatamento deve ser resolvido com soluções que incluam o mercado privado. O país quer se beneficiar dos chamados MDL (Mecanismos de Desenvolvimento Limpo).

Vulnerabilidade: elevação do nível do mar afetando a região do Caribe e a costa do Pacífico, derretimento de geleiras, degradação das regiões alagadas dos altiplanos (paramos), e um aumento da ocorrência de desastres e eventos meteorológicos extremos ligados ao ciclo do El Niño/La Niña.


Costa Rica: País exemplar no que diz respeito à adoção de políticas ambientais. Faz parte de um pequeno grupo de países (juntamente com Suécia, Noruega, Islândia, Ilhas Maldivas, Mônaco e Nova Zelândia) que querem neutralizar o nível de emissões até 2021 (no caso da Costa Rica). Em 2007, foram plantadas 5 milhões de árvores em território costa-riquenho. O maior desafio do país será reduzir as emissões no setor de transporte. Para a Costa Rica, países em desenvolvimento como Brasil, Índia e China também deveriam apresentar planos de redução. Como membro ativo da Coalizão das Nações com Florestas Tropicais, o país está empenhado em conseguir mais verba internacional para combater o desmatamento, priorizando projetos que apresentem soluções que envolvam o setor privado. A Costa Rica implementou o projeto pioneiro do sistema de pagamentos para incentivar a preservação ambiental (água, captura de carbono, conservação de biodiversidade e restauração da beleza bucólica). Segundo esse sistema os donos de terra recebem dinheiro do governo para financiar os custos de preservação.

Vulnerabilidade: O país é especialmente sensível às mudanças climáticas por possuir uma rica biosfera tropical, contendo cerca de 5% de todas as espécies de plantas e animais do planeta, apesar do seu pequeno território. Frequentemente citado como a primeira “vítima” do aquecimento global, o sapo dourado, que vivia nas florestas da Costa Rica, se tornou extinto no final da década de 80 em consequência da mudança do regime de nuvens.


Cuba: Está alinhada com a Alba. O país é a favor do estabelecimento de metas de redução sérias e ambiciosas a serem cumpridas pelos países em desenvolvimento, mas é contra a adoção de soluções que envolvam o livre mercado. O governo cubano também quer que os países ricos participem com uma grande parcela do total necessário ao financiamento de projetos globais de preservação ambiental e de transferência de tecnologia para países pobres e vulneráveis que não possuem a especialização técnica e capacidade de pesquisa de Cuba. O Ministério da Ciência e Meio Ambiente de Cuba argumenta que a importância do REDD é superestimada, pois acredita que é mais importante reduzir o nível de emissões dos países ricos.

Vulnerabilidade: O país é exposto aos furacões que a cada ano são mais frequentes e intensos, bem como à elevação do nível dos oceanos, à salinização das terras aráveis, ao aumento do custo dos alimentos e à possíveis mudanças no regime de chuvas que podem causar secas. O setor de turismo, crucial para a economia do país, pode vir a ser afetado negativamente caso os verões europeus sejam mais quentes, o número de furacões aumente e o litoral cubano (incluindo a capital Havana) seja ameaçado pela elevação do nível do mar.


Equador: País membro da Alba (vide Bolívia acima), seu principal projeto, o Yasuní-ITT, propõe que a comunidade internacional (principalmente os países europeus) pague ao Equador para que o país não desenvolva projetos de exploração na Reserva Yasuní, uma área na floresta amazônica que concentra cerca de 20% das reservas de petróleo equatorianas. Segundo a proposta, seriam emitidos os chamados bonds de carbono num valor de até US$ 5 bilhões, equivalentes às emissões de carbono que seriam evitadas pela não utilização do petróleo e pela preservação da floresta tropical. O dinheiro obtido com a venda desses papeis seria depositado num fundo e os portadores dos títulos poderiam opinar sobre as formas de aplicação da verba em projetos de preservação florestal e de geração de energia alternativa. A Alemanha concordou em participar com US$400,000.

Vulnerabilidade: Redução do volume de água disponível (com o derretimento de geleiras, alteração do regime de chuvas nos altiplanos alagados) poderá afetar o nível dos reservatórios de água potável da capital Quito e de outras cidades, bem como, a produção do setor hidrelétrico (responsável pela geração de mais da metade da energia consumida no país). As geleiras Antisana e Cotopaxi, que fornecem 75% da água de Quito, estão sob grande risco por conta do degelo. A região costeira em torno de Guayaquil está exposta à elevação do nível do mar.


México: O país estabeleceu voluntariamente metas de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa, se comprometendo a cortar 50% até 2050 em relação aos níveis de 2002. É um dos maiores defensores da criação de um “Fundo Verde”, que receberia verba de todos os países com exceção dos países pobres, para o financiamento de projetos ambientais. O governo mexicano planeja para 2012 a adoção de um sistema de cortes de emissões - possivelmente ligado a um sistema americano existente – principalmente dos setores cementeiro e de refino de petróleo. Pela afiliação à Ocde e ao G-20 (o país não faz parte do G-77), o México tem capacidade de influenciar importantes negociações, entretanto, muitas vezes o país é visto nestes fóruns como um satélite dos Estados Unidos.

Vulnerabildade: Metade da costa leste do país, principalmente a costo do golfo, é vulnerável a uma eventual elevação do nível dos oceanos e a aumentos da frequência e intensidade dos furacões. Espera-se que a diminuição do nível de chuvas com o aumento da seca afete a agricultura de algumas regiões. As florestas tropicais existentes nas regiões sul e central do país poderão vir a ser substituídas por savanas. A Comissão Econômica da ONU para a América Latina e Caribe (Cepal) estima que o México pode ter uma redução de 6 a 30% do Produto Interno Bruto por conta do impacto das mudanças climáticas.Clique


Paraguai: Os críticos afirmam que o governo do presidente Fernando Lugo não está levando a sério a necessidade de adoção de medidas que visem reduzir o impacto das mudanças climáticas.

Vulnerabilidade: País especialmente sob risco por conta da dependência econômica da exportação de produtos agrícolas e da eletricidade de Itaipu. O aumento da demanda por soja tem acelerado o desmatamento que por sua vez causa mais desertificação. A região do Chaco poderá enfrentar períodos de intensa seca.


Peru: O presidente Alan García anunciou no fim de 2008 um plano que prevê desmatamento zero nos próximos 10 anos, como sendo a contribuição do país para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa. Segundo o plano, será preciso que a comunidade internacional invista cerca de US$ 20 milhões por ano, enquanto o governo peruano estaria pronto para entrar com US$ 5 milhões. O Peru tem a quarta maior área de floresta tropical do mundo, atrás apenas do Brasil, Indonésia e Congo. Estima-se que o desmatamento responde por metade das emissões totais de carbono do país. Os grupos indígenas são contra soluções que envolvam o mercado privado.

Vulnerabilidade: Segundo o Banco Mundial, as geleiras peruanas recuaram 22 porcento nos últimos 35 anos, causando uma diminuição de 12% no abastecimento de água das áreas costeiras, onde vivem cerca de 60% da população. A capital Lima é uma das cidades com maior problema de abastecimento de água do mundo. O país também possui uma enorme diversidade de espécies amazônicas que são extremamente vulneráveis à perda de seu habitat natural.


Uruguai: O país vem defendendo que o Fundo de Adaptação - que permitirá que os países em desenvolvimento possam combater os efeitos das mudanças climáticas - tenha um volume maior de recursos e uma atuação mais eficaz. No final de outubro, o governo anunciou que vai adotar, voluntariamente, um conjunto de medidas, que incluem a modificação de sua matriz geradora de energia. O plano pretende aumentar de 6 para 15% a geração de energia a partir de fontes renováveis, a partir de 2015.

Vulnerabilidade: Residências privadas assim como empreendimentos do setor de turismo do estuário do Rio da Prata poderão ser afetados pelo aumento do nível das águas. 70% da população do país vivem na região costeira. A agricultura do país também é vulnerável às mudanças climáticas.


Venezuela: Como membro da Alba, o governo Chávez tem culpado o capitalismo ocidental pelo aquecimento global. O país também é membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), grupo que se opõe ao desenvolvimernto de projetos de baixas emissões de carbono. Em 2007, a Venezuela registrou o maior índice per capita de emissões por consumo de energia entre os países da América Latina (segundo o Energy Information Administration, dos EUA). Chávez anunciou a ‘Revolução da Energia’, plano que pretende substituir 50 milhões de lâmpadas convencionais por outras que economizem energia; o plantio de milhões de árvores nos próximos 5 anos; e o projeto Gasoduto do Sul, que irá levar combustível limpo a grande parte da região.

Vulnerabilidade: Os manguezais das regiões costeiras são especialmente vulneráveis à elevação do nível do mar; mudanças no regime de chuvas podem afetar o fornecimento de energia elétrica. As cidades podem vir a sofrer as consequências de inundações como as de 1999, que mataram cerca de 30,000 pessoas.

Fontes principais: BBC articles, IPCC, ECLAC, World Bank, Hadley Centre.

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