Estrada atropela maior lago subterrâneo do Brasil, na Bahia

19 de setembro de 2010

Por CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

A pavimentação de uma estrada no sudoeste da Bahia atropelou, literalmente, a caverna que abriga o maior lago subterrâneo do Brasil.

O estrago foi verificado por um espeleólogo e motivou a visita de uma equipe do Instituto Chico Mendes ao local na última sexta-feira.

O órgão, agora, quer descobrir se o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) errou na concessão da licença de um trecho da obra da rodovia BR-135 ou se o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) faz o trabalho num trecho não licenciado.

Grupo Bambuí/Divulgação
Vista do sistema de cavernas que abriga o lago subterrâneo no sudoeste baiano; espeleólogos relatam queda de pedras.

Vista do sistema de cavernas que abriga o lago subterrâneo no sudoeste baiano; espeleólogos relatam queda de pedras.

A vítima principal é o Buraco do Inferno da Lagoa do Cemitério, caverna que abriga o lago de 13.860 m2.

A gruta integra o sistema de cavernas João Rodrigues, no carste (formação de rocha calcária caracterizada por cavernas, que lembra um queijo suíço) de São Desidério, município baiano na fronteira da expansão da soja.

Segundo Alexandre Lobo, do Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, há mais de uma centena de cavernas na região. Três dezenas delas são consideradas "expressivas" e deveriam estar protegidas. O Instituto Chico Mendes tem planos de criar uma unidade de conservação ali.

ALTERNATIVA

Em 2008, Lobo integrou uma equipe que mapeou as grutas na região de influência da BR-135. O objetivo era sugerir um traçado alternativo para a obra de pavimentação da estrada, justamente para desviá-la do carste.

No mês passado, o espeleólogo foi a São Desidério fazer fotos do lago subterrâneo. "Deparei com desmatamento e terraplenagem e as obras em curso", conta.

"No ponto onde o conduto [teto da caverna] é mais alto, sobre o lago, vi que havia blocos de rocha caídos recentemente", continua Lobo. "Há dolinas [buracos naturais na rocha calcária] entupidas, tudo isso resultado das máquinas que trabalham no local."

A estrada, é verdade, já passava por cima da caverna. Como era uma estrada de terra, porém, o trânsito local era pequeno. Quando o Dnit pediu a licença para pavimentar a estrada, que será usada para escoar a produção agrícola da região, o Ibama aproveitou para corrigir o traçado do trecho problemático.

Segundo o Dnit, 19 km dos 60 km da obra não receberam licença por decisão do Ibama. A obra continuou no restante. Em maio deste ano, o órgão autorizou que o asfaltamento prosseguisse por mais 14 km de estrada.

O Dnit afirmou à Folha, por meio de sua assessoria de imprensa, que a obra em curso se limita ao trecho autorizado. Os outros 5 km embargados, que segundo o departamento corresponderiam "à caverna", continuariam parados, à espera da conclusão do estudo sobre o desvio.

Lobo contesta o Dnit. Ele diz que há obras ocorrendo exatamente sobre a caverna. "Inspecionamos a obra. Ela está ocorrendo", diz o gerente do Ibama em Barreiras, Zenildo Soares. "Falta definir as coordenadas do local onde ela foi impedida."

O espeleólogo Jussykledson de Souza, que mora em São Desidério, acompanhou na sexta a equipe do Instituto Chico Mendes que foi vistoriar o local. "O teto da caverna está caindo. Vimos blocos caírem", afirmou.

"Ter ou não ter licença só agrava a situação. O que nos preocupa é a integridade do sistema", disse Jocy Cruz, chefe do Cecav (Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas), do Instituto Chico Mendes.

Aquecimento de 1,3°C é inevitável, diz pesquisa

11 de setembro de 2010

Por GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO


O que aconteceria se a Terra parasse seu rimo de expansão e nenhuma nova usina ou veículo capaz de emitir carbono fossem construídos? Ainda assim, a temperatura do planeta aumentaria 1,3°C, até 2060, em relação ao período pré-industrial.

A conclusão é de pesquisadores dos EUA, que fizeram um dos mais detalhados levantamentos sobre emissões de carbono ligadas à geração de energia e à estrutura de transportes. O material foi publicado na revista "Science" de ontem. 

O planeta vai esquentar, mas para os os cientistas ele ainda não chegou ao patamar de aquecimento e emissões em que as consequências se tornam irreversíveis. 


Editoria de Arte/Folhapress

O aumento de 1,3°C em relação ao período anterior à revolução industrial --cerca de 0,5°C a mais que hoje-- foi considerado até modesto pelos pesquisadores, que esperavam crescimento de pelo menos 2°C. 

A concentração de carbono na atmosfera, no mesmo período, deve ficar em 430 ppm (partes por milhão), valor também abaixo do que era esperado inicialmente pelos pesquisadores. 

"Esse resultado nos surpreendeu", afirmou Steven Davis, da Instituição Carnegie para a Ciência, que chefiou o trabalho. 

PIOR NO FUTURO
 
Segundo ele, porém, não há motivos para comemorar. Os resultados indicam que as principais ameaças ao planeta ainda estão por vir, devido ao sistema de geração de energia e transportes que são muito dependentes de combustíveis fósseis. 

"É importante que nós façamos a coisa certa agora. Ou seja, construir tecnologias que gerem energia com baixa emissão de carbono", disse Ken Caldeira, também do Carnegie e autor do trabalho. 

Para chegar ao resultado, os cientistas fizeram um levantamento sobre todas as usinas geradoras de energia em operação no mundo. Eles também estimaram as emissões do sistema global de transportes, que tem dois terços das operações com combustíveis fósseis. 

Modelos computadorizados, que simulavam os cenários de emissão previstos pelo IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU), chegaram às conclusões.

Por conta da forte presença de termoelétricas, a maior parte das emissões se concentra nos EUA, Europa Ocidental e China. 

A vida útil média das unidades movidas a carvão é de 40 anos. As usinas chinesas, por serem mais novas, têm potencial para poluírem por mais tempo.
 

Copyright © 2010 365 Atos | Blogger Templates by Splashy Templates